quarta-feira, 6 de abril de 2011

Almoçando em Peritoró

Eu vou poder escrever um livro sobre almoçar em Peritoró. Já quase sou um expert.


O ônibus abre as portas e você não sabe o que o invade mais rápido: as moscas ou as 15 mulheres que estão na porta gritando:

- Vai almoçar?

Lógico que não vou. Num lugar onde as moscas conseguem transformar uma coxinha em quibe facilmente.

Lógico que vou. Saí de São Luís às 7 e meia e são 12 e meia – ninguém é de ferro e eu não sou fresco! – meu estômago não reclama ainda, mas sempre é bom prevenir.

Procuro alternativas, não vou comer nada que não tenha passado por pelo menos 121°C de temperatura – se bem que a temperatura ambiente é quase isso... – óbvio que não irei a nenhum SS (self-service escrito ‘serve-service’). Duas lanchonetes disputam os clientes menos dispostos a encarar o SS, uma decisão difícil de tomar, mas vou ficar com a que não vende perfume falsificado e bonecas de porcelana junto com a comida.

- Quero uma coxinha.

- De quê?

Eu não estava preparado para essa pergunta. Procuro na minha memória cache, vou até o HD e nada. Para mim, só existe 1 tipo de recheio para coxinha (por que é óbvio que aqui não há opções frango e franco com catupiry). Devolvo a pergunta:

- Tem de quê?

- De frango e de carne.

Ora, mas era óbvio. Claro que faz sentido ter uma coxinha com o mesmo recheio dos pasteis que estão espalhados pelo display. Que idiota que sou. Mas apesar da curiosidade, optei pela tradição:

- De frango.

- E pra beber?

Essa era fácil. Vocês acham que eu iria arriscar tomar algum suco de procedência indefinida (de onde viria aquela água?).

- Uma Pepsi (mentira, me desculpe Quercegen).

- Uma coca em lata.

Comi minha coxinha, pedi um pastel (de carne!) – que estava muito melhor que o da praça de alimentação do Rio Anil Shopping – e aproveitei a rapidez que só o fast food das rodoviárias nos permite. Fui dar uma olhada nos alrededores.

Sujeira, muita sujeira. Ambulantes vendendo os mais variados tipos de produtos: castanha de caju, água mineral (de procedência duvidosa), milho cozido (nessa água famosa), milho assado, DVDs e CDs piratas, suquinho (sacolé para quem não conhece – novamente a água) e as famosas pêtas (quem come aquilo?). Os transeuntes eram um povo meio apressado e indeciso, com o rosto angustiado típico de quem está em uma rodoviária do interior, o horário certamente contribuía para isso.

Vans, ônibus e carros pequenos disputavam os passageiros através de intermediários. Mais de uma vez fui retirado do meu disfarce (fones de ouvido e 1,85m de altura): - Está indo para onde?

- Barra do Corda.

Quando ouviam minha resposta, eles ficavam com pena e saiam de perto.

7 comentários:

Hope* disse...

Ultimamente tenho viajado muito de carro, e já tive o encontro com essas moscas... Eu na minha santa ingenuidade tentei ignora-las e almoçar, já que não pretendia parar tão cedo, destino longe, pé na tábua, então resolvi enfrentar...
Mas negô, num deu não, eu só tenho duas mãos, com as quais eu obviamente segurava os talheres, e o copo, e elas zombavam da minha da minha falta de destreza... Fim de jogo: Moscas 1ooo x o fome! Perdi, né
Um abç!

Silvia Whatever disse...

ai, meudeus, que post lindo, hahaha, muito bom, viva Barra do Corda! (pq barra dO corda, hein, não seria barra da corda? Esclareça, por favor, esse detalhe gramatical. Tem um cara que se chama Corda?)

beijos!

Mariana disse...

Will, eu já tinha passado pelo seu blog e lido alguns textos muito bons! Mas essa crônica está sensacional!!!!
Esse texto tem ritmo e ainda um fator surpresa no final... quando você acha que já está ruim, ainda dá pra piorar, né? Hehehe.
Mas além de tudo, o que me encantou nesse texto foi a sua capacidade de rir da sua própria dificuldade. Isso é uma sabedoria que poucas pessoas adquirem, sendo que a maioria se contenta em reclamar e reclamar como se mais ninguém tivesse dificuldades como elas.
Enfim, parabéns por manter o bom humor apesar das adversidades da vida! =)

Beijos!!!

Mariana disse...

Opa, essa Mariana aí em cima é a Mari Espada do Ultra, viu??? =)

Unknown disse...

kekekekeke, essa foi boa Mariana!

Não se preocupe, voc~e é a única Mariana do círculo! rsrsrs

Anônimo disse...

vc e uma alienada falar mal de uma cidade tão hospitaleira!

Unknown disse...

O melhor, mesmo foi 'uma cidade tão hospitaleira'...

Falar mal não importa se o 'mal' for verdade.