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domingo, 9 de março de 2014

Parece que foi ontem...

Mas não foi. Foi cinco semanas atrás. Mas estou aqui nesse ônibus novamente.



Não é o mesmo ônibus. Não isso aqui não é a metáfora do rio não (era Heráclito e eu achava que era Aristóteles!). É que o ônibus é um bem pior que aquele. Esse aqui é menor, mais apertado.

E, de repente como um dinheiro achado numa roupa lavada um soco na boca do estômago, toca no meu fone de ouvido Anitta. Comprei essa música por causa da minha sobrinha de 2 anos (3?) que dança isso rebolando e todo mundo acha engraçado e eu fico com sentimento de culpa por ser só um intelectualzinho de merda que acha um absurdo a sexualização precoce e não consegue se divertir com tudo.

De volta ao ônibus, esse ao menos não tem banheiro e aquele cheirinho sempre presente. É engraçado como isso é uma coisa boa num ônibus e uma coisa ruim num imóvel, mesmo aqueles apartamentos minúsculos  charmosos de meio milhão de reais querem ter um banheiro ao menos.

Há menos de dez pessoas mas em menos de 3 horas de viagem já paramos uma 4 ou 5 vezes. Esse cara busca passageiros como eu busco sentido para minhas interrogações, desesperadamente.

Hoje, o público aqui parece o de hotéis em Miami, idosos descorados e gordos e tristes, solitários. Eu me pergunto se eles estão voltando de um bom carnaval como eu. Ou se apenas estão sozinhos, como eu.

Olho essas pessoas e me deprimo com o reflexo. 

Às vezes, acho que um fio invisível passa por todos nós e que quando ele romper, tudo vai ruir e a dor vai acabar.

No final da sexta parada em menos de 4 horas, tenho plena certeza que o inferno é na Terra e que ele nos chega em drops infinitos de música evangélica sem fones de ouvido like a roling stone. E quando as crianças chegam aos assustadores gritos de 'Óia o mí! Óia o mí!', elas são anjos tentando se sobrepor aos estertores da morte.

Eu não aguento a batalha do bem contra o mal e acabo dormindo.

E agora, explodindo nos fones, 'Salmon Dance'. E o famigerado que para para abastecer (!). Nesse instante eu me lembro de quando você tem a sensação de que há alguém te observando, te acompanhando, seguindo seus passos. É sempre mentira a não ser quando é um ladrão. Somente a solidão te acompanha.

Mas as coisas mais interessantes acontecem da metade da viagem para a frente, quando o ônibus começa a receber novos passageiros. As pessoas se evitam de uma maneira acintosa. Uma mistura de medo e nojo.

Mas por quê?

E olha, eu acho que tenho experiência com pessoas. Mas ainda não cheguei perto de desvendar o por que de se abraçar a solidão. Não apoio, nem entendo. Mas faço igualzinho:

- Esse lugar aqui? Tá ocupado sim...

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pescaria de lembranças

Sabe, naquele dia saímos só nós dois. Você carregava um monte de coisas, redes, linhas, anzóis e eu era um menino - não lembro a minha idade. Lembro que eu era (era?) um menino medroso.

Talvez você tenha me levado lá por isso. E eu agradeço hoje, aqui.



Saímos os dois, acho que era manhã já alta. O rio estava vazando, naquela época do ano em que se formam aquelas lagoas sangrando na sua margem. Passamos algumas fontes nas margens e subimos o rio - para mim, um alívio não ir pela água, apesar de saber nadar. Andamos e eu olhava para tudo, qualquer barulho ou rumor me assustava.

Aos poucos fui me acalmando, você falava (não lembro bem) e aos poucos aquilo tudo fazia um pouco de sentido e era bom.

E então, chegamos onde você queria. Você procurou e achou um remo. Procurou e achou uma vara de talo de Babaçu. Entramos na água. Você amarrou um lado da rede no talo e fincou de um lado da sangria. Abriu a rede e me chamou para segurar o outro lado com água até o ombro (vontade de colocar até o pescoço, mas seria mentira minha) e me disse, segura firme que eu vou ali.

E sumiu.

Com o remo.

Foi fazer o que eu imagino que seja chamado de 'bateção'. Bater na água do lado oposto para espantar os peixes para onde se quer pescar. No caso, na minha direção.

Foi assustador, e foi inesquecível.

Valeu Pai.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Coisas Deleitáveis



Seguindo a mesma balada do post anterior, segue uma lista prazerosa, mas tão difícil de fazer quanto a anterior. A lista de coisas deleitáveis que me vêm à cabeça neste instante.

Rio de fundo de areia e da água quente em feriado. Casa de interior. Feriado em meio de semana. Feriado prolongado. Viajar com dinheiro. Chegar em casa antes da hora e não ter nada para fazer. Ser bem pago por um trabalho árduo. Ler um grande livro. Ler um livro grande. Ler jornal de papel. Ler livro novo. Ver que seu último post teve muitos acessos e comentários. Ver a McLaren vencer. Ir ao cinema. Ludmilla. Uma namoradinha de manhã cedo. Quando você acha um dinheiro que havia perdido. Quando você acha um dinheiro que não havia perdido. Reunião objetiva. Final de semana com a casa vazia. Botafogo ganhar de 1 x 0 no finalzinho do jogo. Botafogo ganhar. Botafogo ganhar do Flamengo. Pastel de beira de estrada. Coca-cola de garrafa de vidro. Fazer uma prova sabendo o assunto. Escrever. Fazer uma defesa impossível e receber aquele cumprimento do defensor. Ganhar coisas. Dar presente para quem sabe ganhar presente. Comprar uma coisa bonita ou um livro bonito. Carro novo quando você vai tirar ele da concessionária. Quando a festa acaba e você está inteiro. Não ter pedra nos rins. Não ter que ir ao médico. Não ir ao dentista. Fazer um xixi depois de estar bem apertado.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Coisas Abomináveis



Estava a ler no sábado minhas queridas crônicas - que foram minha iniciação no prazer da leitura. E reli esta aqui do querido PMC: http://www.janainaramos.com/2009/06/coisas-abominaveis-paulo-mendes-campos.html

Obviamente sem o mesmo brilho, resolvi fazer a minha listagem de coisas abomináveis, que me vêm à cabeça neste instante.

Bater no carro de gente histérica, bater no carro de policial, bater no carro de advogado. Dor de barriga no trabalho. Perder jogo no último minuto. Bateria do celular acabar e você esperar uma ligação urgente. Chefe que se acha especial. Gente que se acha especial. Programação da TV aberta no domingo. Novela das 8. Ricardo Teixeira. Galvão Bueno narrando Fórmula 1. Gente que se apossa do coletivo. Ônibus coletivo cheio. Terminal de integração de coletivos. Buracos em avenidas. Bueiro sem tampa em dia de chuva forte. Barriga roncando às 9:15 da manhã. Ter de trabalhar na segunda. Ter que fingir estar trabalhando quando na verdade se está na internet. Querer ler e estar sem nenhum livro novo. Ter que parar um filme na metade para terminar de assistir depois. Esquecer de assistir o filme que ficou pela metade. Perder dinheiro. Achar uma conta que não foi paga. Ser demitido. Ser forçado a pedir demissão. Quando nos dizem 'o problema não é você, sou eu'. Quado nós dizemos ' o problema não é você, sou eu'. Ter que economizar para comprar uma casa, mas na verdade estar economizando para aumentar o lucro da CEF. Pagar em prestações o que você deveria ter comprado à vista. Não achar a lente de contato em dia de jogo à noite. Revisar SOP que não foi você quem elaborou. Revisar qualquer coisa. Passar em concurso e não ser chamado. Não saber se já foi chamado em concurso que passou. Ver que já foi chamado e perdeu o prazo do concurso que você passou. Wágner cobrando qualquer coisa que depende mais dele do que de mim. Gente que não toma atitudes por medo de errar. Coca-cola quente. Pepsi sem gás. Pepsi com gás. Mulher que grita por qualquer coisa. Homem que grita por qualquer coisa. Gente que não sabe descansar. Gente que não sabe ficar em fila. Dor de dente. Dentista. Broca. Dia de ir no dentista. Quando a preguiça vence a alegria de viver. Sede. Meia listrada.