quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pescaria de lembranças

Sabe, naquele dia saímos só nós dois. Você carregava um monte de coisas, redes, linhas, anzóis e eu era um menino - não lembro a minha idade. Lembro que eu era (era?) um menino medroso.

Talvez você tenha me levado lá por isso. E eu agradeço hoje, aqui.



Saímos os dois, acho que era manhã já alta. O rio estava vazando, naquela época do ano em que se formam aquelas lagoas sangrando na sua margem. Passamos algumas fontes nas margens e subimos o rio - para mim, um alívio não ir pela água, apesar de saber nadar. Andamos e eu olhava para tudo, qualquer barulho ou rumor me assustava.

Aos poucos fui me acalmando, você falava (não lembro bem) e aos poucos aquilo tudo fazia um pouco de sentido e era bom.

E então, chegamos onde você queria. Você procurou e achou um remo. Procurou e achou uma vara de talo de Babaçu. Entramos na água. Você amarrou um lado da rede no talo e fincou de um lado da sangria. Abriu a rede e me chamou para segurar o outro lado com água até o ombro (vontade de colocar até o pescoço, mas seria mentira minha) e me disse, segura firme que eu vou ali.

E sumiu.

Com o remo.

Foi fazer o que eu imagino que seja chamado de 'bateção'. Bater na água do lado oposto para espantar os peixes para onde se quer pescar. No caso, na minha direção.

Foi assustador, e foi inesquecível.

Valeu Pai.